![]() |
| Fonte: Imagesearchman |
✝ Salmos 137 - "O Cântico da Saudade e da Esperança"
📖 Introdução
O Salmo 137 é um dos mais emocionantes e profundos de toda a Escritura, carregado de dor, saudade e também de justiça. Ele foi escrito no contexto do cativeiro da Babilônia, quando o povo de Israel estava exilado, longe de sua terra, longe do templo e longe da liberdade. Ali, junto aos rios da Babilônia, eles se lembravam de Sião — Jerusalém, a cidade amada — e choravam, pois não podiam mais cantar os cânticos do Senhor em terra estrangeira.
Este salmo retrata não apenas a tristeza de um povo arrancado de sua pátria, mas também a fidelidade a Deus e à identidade espiritual de Israel. Ele mostra o peso da saudade, a recusa em esquecer Jerusalém, e termina com um clamor por justiça contra os inimigos que causaram tamanha dor. Mais do que uma lamentação, é um cântico que mistura lágrimas e esperança, revelando como a fé pode resistir mesmo nos momentos de maior aflição.
✝ Salmos 137:1
"Junto aos rios da Babilônia nos sentamos e choramos, enquanto nos lembramos de Sião."
Este versículo abre o salmo com uma cena profundamente comovente: o povo de Israel, exilado em terra estrangeira, sentado à beira dos rios da Babilônia, recordando com lágrimas a sua amada Sião. A imagem simboliza a dor da separação e a perda de tudo aquilo que representava identidade, fé e segurança. Jerusalém não era apenas uma cidade; era o coração da vida espiritual de Israel, onde estava o templo, a presença de Deus e a expressão máxima da comunhão com Ele. A lembrança de Sião trazia à tona não apenas saudade, mas também um sentimento de desolação diante do cativeiro.
Ao mesmo tempo, esse versículo nos ensina sobre a importância da memória espiritual. Em meio à dor, os israelitas não se esqueciam de quem eram nem do Deus a quem pertenciam. Eles choravam, sim, mas não deixavam de lembrar de Sião, símbolo da promessa de Deus e da esperança de restauração. Para nós, essa passagem mostra que mesmo em tempos de exílio espiritual, de dor ou de afastamento, devemos manter viva a lembrança da presença de Deus em nossas vidas, pois é ela que sustenta a esperança e fortalece a fé.
✝ Salmos 137:2
"Sobre os salgueiros que há no meio dela penduramos nossas harpas."
Neste versículo, os exilados expressam seu silêncio e dor de maneira simbólica: penduraram suas harpas nos salgueiros. A harpa, que antes era instrumento de alegria, de cânticos de louvor e adoração a Deus em Sião, agora estava abandonada, sem uso. O gesto de pendurá-las mostra a impossibilidade de cantar em meio ao sofrimento do cativeiro. O louvor espontâneo, antes tão natural em Jerusalém, deu lugar ao choro e ao silêncio, revelando a profundidade da angústia e da saudade do povo.
Por outro lado, esse ato também expressa a fidelidade a Deus. Os israelitas não quiseram usar seus instrumentos para entreter seus opressores, nem profanar os cânticos sagrados em terra estrangeira. Eles entenderam que o louvor verdadeiro está ligado à comunhão com o Senhor e ao lugar que Ele havia consagrado. Para nós, essa passagem é um convite a refletirmos: mesmo em tempos de dor e desânimo, quando parece não haver motivo para cantar, é preciso guardar a santidade da adoração, reservando-a ao Deus que, no tempo certo, restaura e traz alegria novamente.
✝ Salmos 137:3
"Porque ali os que tinham nos capturado nos pediam letras de canções, e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo : Cantai para nós algumas das canções de Sião."
Este versículo mostra a crueldade dos opressores babilônicos, que zombavam dos israelitas em seu sofrimento. Eles pediam que o povo de Deus cantasse os cânticos de Sião como forma de entretenimento, sem compreender o valor espiritual e sagrado dessas canções. Para os israelitas, cada cântico não era apenas música, mas expressão da presença de Deus e da identidade do seu povo. Por isso, o pedido dos inimigos não era um simples convite para cantar, mas um insulto à fé e uma humilhação diante da dor do exílio.
Ao mesmo tempo, esse versículo revela um contraste entre o sagrado e o profano. O que para os inimigos era diversão, para os exilados era uma lembrança dolorosa do que haviam perdido. Eles não podiam cantar como se nada tivesse acontecido, pois seus cânticos eram dedicados ao Senhor e estavam profundamente ligados ao templo e à comunhão com Ele. Aqui aprendemos que o louvor não deve ser banalizado nem usado de qualquer forma, mas precisa ser oferecido com reverência, em espírito e em verdade. Esse texto nos ensina a valorizar o culto e a adoração, reconhecendo que cantar para Deus é ato santo e não mero entretenimento humano.
✝ Salmos 137:4
"Como cantaríamos canções do SENHOR em terra estrangeira?"
Este versículo traduz o coração aflito dos israelitas diante da humilhação do exílio. Eles reconhecem que os cânticos do Senhor não podiam ser entoados de qualquer maneira, muito menos em uma terra que não era a prometida por Deus. A música que antes era expressão de celebração, comunhão e identidade espiritual, agora estava cercada de dor. Cantar em terra estrangeira seria, para eles, como profanar aquilo que era santo, pois seus cânticos não eram para o divertimento dos opressores, mas louvores dedicados exclusivamente ao Senhor.
Esse lamento também reflete a saudade da presença de Deus e do templo em Jerusalém, lugar escolhido para habitação do Seu nome. Para nós, este versículo é um lembrete de que a adoração não depende apenas da música ou das palavras, mas do coração em sintonia com o Senhor. Ele nos ensina que não devemos transformar o louvor em algo vazio ou sem sentido, mas mantê-lo como expressão verdadeira da nossa fé. Mesmo em meio a “terras estrangeiras” da vida — momentos de dor, injustiça ou distanciamento —, o louvor só faz sentido quando nasce de um coração entregue a Deus.
✝ Salmos 137:5
"Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita se esqueça de sua habilidade ."
Aqui vemos um juramento solene do salmista, reafirmando sua fidelidade a Jerusalém, símbolo da presença de Deus e da identidade do Seu povo. Ele declara que, se chegar ao ponto de esquecer Sião, sua mão direita — normalmente associada à força, ao trabalho e à habilidade — perca sua destreza. Essa expressão mostra que a lembrança de Jerusalém era tão essencial que sem ela nada mais teria valor. É como se dissesse: “Prefiro perder minha capacidade do que perder a memória daquilo que representa minha fé e esperança.”
Esse versículo nos ensina sobre compromisso e prioridade. O salmista coloca a fidelidade a Deus e à Sua promessa acima de qualquer habilidade humana, reconhecendo que tudo o que possui — dons, talentos, forças — depende de sua ligação com o Senhor. Para nós, significa que não podemos permitir que as dificuldades da vida nos façam esquecer de onde vem a nossa identidade espiritual. É um chamado para manter firme a memória da presença de Deus em nossas vidas, pois sem Ele, mesmo nossas maiores habilidades perdem sentido.
✝ Salmos 137:6
"Que minha língua grude no céu da boca se eu não me lembrar de ti, se eu não pôr Jerusalém acima de todas as minhas alegrias."
O salmista aprofunda ainda mais o juramento de fidelidade. Se no versículo anterior ele relacionou Jerusalém com sua mão direita e suas habilidades, aqui ele associa à língua, instrumento do canto e da adoração. Ele pede que sua boca se cale, que perca a capacidade de falar, se chegar ao ponto de esquecer-se de Jerusalém. A imagem é forte e revela que para ele não fazia sentido ter voz, cantar ou se alegrar sem colocar Jerusalém — e o que ela representava, a presença de Deus — no centro de sua vida.
Esse versículo nos ensina sobre a ordem das prioridades do coração. O salmista afirma que nenhuma alegria, por maior que fosse, poderia ocupar o lugar de Jerusalém. Isso mostra que nossa maior satisfação não deve estar em conquistas materiais, prazeres momentâneos ou circunstâncias favoráveis, mas em Deus e na comunhão com Ele. Assim como o povo exilado decidiu não substituir Sião por nenhuma outra alegria, também somos chamados a colocar a presença de Deus acima de tudo, reconhecendo que somente n’Ele encontramos verdadeira felicidade.
✝ Salmos 137:7
"Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, que diziam: Arruinai -a ,arruinai -a ,até ao seus fundamentos!"
Neste versículo, o salmista pede a Deus que se lembre da atitude traiçoeira dos edomitas durante a queda de Jerusalém. Em vez de ajudar seus “irmãos” israelitas, os descendentes de Esaú se alegraram com a destruição da cidade santa e até incentivaram os babilônios a arrasarem Jerusalém por completo. O grito “arruinai-a” ecoa como zombaria e crueldade, revelando a hostilidade de Edom contra o povo de Deus. Por isso, o salmista clama por justiça, pedindo ao Senhor que não esqueça a maldade cometida.
Esse pedido não é apenas um desejo de vingança humana, mas um apelo à justiça divina. O salmista reconhece que Deus é justo e que nenhum ato de traição ou crueldade passará despercebido diante d’Ele. Para nós, essa passagem é um lembrete de que podemos levar nossas dores, ofensas e injustiças diante do Senhor, confiando que Ele é o justo juiz. Ainda que as pessoas nos traiam ou se alegrem com nossas quedas, Deus não se esquece, e no tempo certo Ele faz justiça.
✝ Salmos 137:8
"Ah filha de Babilônia, que serás destruída! Bem-aventurado a quem te retribuir o que fizeste conosco."
Aqui o salmista direciona sua fala à Babilônia, a grande opressora responsável pela destruição de Jerusalém e pelo sofrimento do povo de Deus. Ele declara, de forma profética, que Babilônia também enfrentaria a ruína. A expressão “bem-aventurado aquele que te retribuir” não deve ser lida apenas como desejo de vingança pessoal, mas como a certeza de que a justiça divina alcançaria até mesmo o império mais poderoso da época. A Babilônia, que parecia invencível, seria julgada por Deus pelo mal que praticou contra Seu povo.
Esse versículo nos mostra que nenhum império humano, por maior que seja, está acima da justiça do Senhor. Os poderosos podem, por um tempo, parecer triunfar sobre os fracos, mas diante de Deus todos prestarão contas. Para nós, é um alerta e uma esperança: alerta para que não sejamos instrumentos de opressão ou injustiça, e esperança de que todo sofrimento causado por sistemas injustos e cruéis um dia terá fim. O salmista nos lembra que a justiça pertence ao Senhor, e que Ele é fiel para retribuir cada ato conforme as Suas justas medidas.
✝ Salmos 137:9
"Bem-aventurado aquele que tomar dos teus filhos, e lançá-los contra as pedras."
Este versículo encerra o Salmo 137 com uma linguagem dura, chocante e difícil de compreender à primeira vista. Ele expressa o clamor de um povo ferido, humilhado e profundamente marcado pela violência da Babilônia. A declaração não deve ser entendida como uma aprovação literal da vingança cruel, mas como um desabafo poético e intenso do sofrimento do exílio. O salmista coloca em palavras a dor da injustiça e a expectativa de que a Babilônia, assim como tratou Israel com crueldade, também experimentaria a retribuição de seus atos.
No contexto bíblico, esse tipo de linguagem era comum em expressões de lamento e justiça. O coração do texto não está na violência em si, mas na certeza de que a justiça divina seria inevitável. Para nós, a lição é clara: podemos levar diante de Deus nossas dores mais profundas e até sentimentos que não conseguimos controlar. Ele é quem julga com equidade, e não nós. O versículo nos lembra que a justiça humana é falha e, muitas vezes, movida pela vingança, mas a justiça do Senhor é perfeita e alcançará até mesmo os impérios e corações mais endurecidos.
Resumo do Salmos 137
O Salmo 137 é um dos cânticos mais emocionantes e intensos das Escrituras, trazendo à tona a dor do exílio babilônico e o clamor por justiça. Ele começa descrevendo o povo de Israel sentado às margens dos rios da Babilônia, chorando ao se lembrar de Sião, sua cidade santa e centro da vida espiritual. Os instrumentos musicais, antes usados para louvar a Deus, foram pendurados nos salgueiros, simbolizando a impossibilidade de cantar em meio ao sofrimento. Os opressores zombavam, pedindo que os israelitas entoassem cânticos de Jerusalém, mas o povo se recusava, afirmando que não era possível cantar as canções do Senhor em terra estrangeira.
O salmista então faz um juramento solene de fidelidade, declarando que jamais esqueceria Jerusalém, ainda que isso custasse sua habilidade e até mesmo sua voz. Jerusalém era mais do que uma cidade; era símbolo da presença e da promessa de Deus. Nos últimos versículos, o tom muda para um clamor de justiça: primeiro contra os edomitas, que incentivaram a destruição da cidade, e depois contra a própria Babilônia, que causou tanto sofrimento ao povo. A linguagem usada é forte e carregada de emoção, revelando a esperança de que Deus retribuiria os atos de violência e maldade.
Assim, o Salmo 137 mistura dor, saudade, fidelidade e justiça. Ele mostra que a adoração a Deus não pode ser banalizada, que a memória espiritual deve ser preservada mesmo em tempos de aflição e que a justiça pertence ao Senhor. Para nós, esse salmo é um convite a mantermos viva a fé mesmo nos momentos mais difíceis, confiando que Deus é fiel para restaurar e justo para retribuir.
Referências
BÍBLIA. Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995. Salmos 137.
BÍBLIA. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. Salmos 137.
BERKOUWER, G. C. The Holy Scriptures: A Theology of the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1962. Cap. sobre os Salmos e o exílio.
WALTKE, B. K.; YOUNG, J. H. An Introduction to Biblical Hebrew Syntax. Winona Lake: Eisenbrauns, 1993. Discussão sobre Salmos 137 e o contexto literário do cativeiro babilônico.
https://play.google.com/store/apps/details?id=biblia.de.estudos.gratis
