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sexta-feira, 6 de junho de 2025

Salmos 88

 

Fonte: Imagesearchman

Salmos 88 - Quando a Alma Grita na Escuridão — Uma Reflexão sobre o Salmo 88

Introdução

O Salmo 88 é um clamor vindo do mais profundo da alma humana. Ao contrário da maioria dos salmos que, mesmo em meio ao sofrimento, terminam com declarações de confiança em Deus, este termina em silêncio sombrio — sem alívio, sem resposta aparente. Escrito pelos filhos de Corá e atribuído a Hemã, o ezraíta, este salmo é um retrato cru da angústia, da sensação de abandono e do peso da dor que parece interminável.

Mas por que um salmo assim está na Bíblia? Justamente porque Deus permite que sejamos verdadeiros diante d'Ele — mesmo quando o que temos a oferecer são lágrimas, perguntas sem resposta e noites sem fim. Este salmo nos lembra que a fé não é sempre triunfante e alegre; às vezes, ela apenas sobrevive, sustentada pela persistência de orar, ainda que tudo pareça perdido. Vamos refletir juntos sobre essa oração dolorosa, mas profundamente humana, e descobrir o que ela revela sobre Deus, sobre nós e sobre a esperança silenciosa que ainda pode nascer no meio da escuridão.

✝ Salmos 88:1

"Cântico e Salmo dos filhos de Coré, para o regente, conforme “Maalate Leanote”. Instrução feita por Hemã, o Ezraíta: Ó SENHOR Deus de minha salvação, dia e noite clamo diante de ti."

Logo no início deste salmo, percebemos a seriedade e o peso espiritual da mensagem. Hemã, o Ezraíta, reconhecido por sua sabedoria em 1 Reis 4:31, é quem derrama sua alma neste cântico. A expressão "Maalate Leanote" sugere um tom melancólico, talvez algo como “doença e aflição”, indicando que este salmo foi composto em meio a uma dor intensa. Mesmo assim, ele começa com uma declaração poderosa: "Ó SENHOR Deus de minha salvação". Isso nos mostra que, mesmo envolto em sofrimento, o salmista ainda reconhece Deus como sua única fonte de socorro.

A perseverança na oração também é uma lição aqui. Hemã diz que clama "dia e noite". Ele não está apenas fazendo uma oração rápida; ele vive em oração constante, insistente, desesperada. Muitas vezes, quando estamos em sofrimento, tendemos a nos calar ou a desistir de falar com Deus. Mas este versículo nos ensina que mesmo quando tudo parece escuro, a oração continua sendo o caminho da alma ferida. Hemã não busca respostas fáceis — ele busca a presença de Deus, mesmo em meio ao silêncio e à dor.

✝ Salmos 88:2

"Que minha oração chegue à tua presença; inclina os teus ouvidos ao meu clamor."

Neste versículo, Hemã suplica para que sua oração ultrapasse as barreiras do silêncio e chegue até Deus. Ele não duvida que Deus ouve, mas expressa a dor de quem ora e, ainda assim, não vê resposta. Ao dizer "Que minha oração chegue à tua presença", ele demonstra o desejo profundo de ser notado por Deus — de não ser ignorado no meio da sua angústia. É como se dissesse: “Senhor, não deixe minha dor se perder no vazio.”

A segunda parte do versículo, "inclina os teus ouvidos ao meu clamor", traz uma imagem íntima: como alguém que se curva para ouvir melhor uma voz fraca, quase sem forças. O salmista clama, mas seu grito vem do fundo do poço emocional e espiritual — talvez fraco, talvez abafado pelas lágrimas. E é por isso que ele pede: “Se aproxime, Senhor, e me escute.” Isso nos mostra que a fé verdadeira não finge força — ela se humilha, ela clama com vulnerabilidade, e espera que Deus se incline com misericórdia.

✝ Salmos 88:3

"Porque minha alma está cheia de aflições, e minha vida está quase no mundo dos mortos."

Aqui, Hemã expressa com clareza o peso que carrega dentro de si: “minha alma está cheia de aflições”. Ele não está falando de uma tristeza comum, mas de uma angústia que transborda — que ocupa todo o seu interior. Essa é uma dor existencial, que toca o espírito e o esgota completamente. A palavra “cheia” revela que não há mais espaço para esperança, alegria ou descanso. Sua alma está sobrecarregada, sem fôlego, como quem vive todos os dias à beira do colapso emocional.

A segunda parte do versículo — “minha vida está quase no mundo dos mortos” — nos dá um vislumbre da gravidade de sua situação. Ele se sente à beira da morte, não apenas física, mas também emocional e espiritual. É como se estivesse vivendo um luto antecipado de si mesmo, caminhando entre os vivos como quem já pertence ao mundo dos mortos. Isso mostra que a Bíblia não mascara o sofrimento humano — pelo contrário, ela o valida. E mesmo nesse estado, Hemã continua orando. Isso nos ensina que até quando estamos no fundo do poço, ainda há valor em clamar a Deus.

✝ Salmos 88:4

"Já estou contado entre os que descem à cova; tornei-me um homem sem forças."

Neste versículo, Hemã expressa um sentimento de morte em vida. Ele diz que já é contado entre os que descem à cova — ou seja, aos olhos do mundo, ele já está como um morto, sem esperança, sem vitalidade, esquecido. A “cova” simboliza o túmulo, o fim, a escuridão. Ele se vê tão abatido que sente como se estivesse fora dos vivos, sem mais propósito ou valor.

A segunda parte revela o esgotamento completo: “tornei-me um homem sem forças”. Ele não fala apenas de cansaço físico, mas de exaustão da alma, de quem já tentou de tudo e sente que nada muda. Este é o retrato de alguém que, mesmo sem sentir a presença de Deus, ainda ora. Mesmo sem forças, ele não silencia. Isso é poderoso.

Esse versículo nos mostra que até os momentos mais escuros podem ser apresentados diante de Deus. Não precisamos esconder nossa fraqueza. Deus ouve quando dizemos: “não tenho mais forças.” E é exatamente aí, quando tudo parece perdido, que o milagre da graça pode começar a agir.

✝ Salmos 88:5

"Abandonado entre os mortos, como os feridos de morte que jazem na sepultura, aos quais tu já não te lembra mais, e já estão cortados para fora do poder de tua mão."

Neste versículo, Hemã descreve a si mesmo como alguém que foi abandonado entre os mortos — não apenas esquecido pelas pessoas, mas aparentemente até por Deus. Ele se compara aos feridos de morte, pessoas que já passaram da linha da vida e não têm mais esperança de retorno. A expressão "jazem na sepultura" transmite um estado de total inatividade, silêncio e fim. É o retrato de uma alma que sente que está morta por dentro, mesmo que o corpo ainda esteja vivo.

O lamento se aprofunda com a frase: "aos quais tu já não te lembras mais, e já estão cortados para fora do poder de tua mão". Aqui, Hemã não está fazendo uma declaração teológica literal — ele sabe que Deus é onisciente — mas está expressando como se sente: esquecido por Deus, fora do alcance da sua intervenção. É a dor de quem ora, mas não ouve resposta. De quem acredita, mas se vê mergulhado em silêncio e solidão. Mesmo assim, esse versículo nos ensina algo profundo: Deus permitiu que essa oração fosse registrada na Bíblia. Isso mostra que Ele ouve até os lamentos mais escuros — e os acolhe com amor.

✝ Salmos 88:6

"Puseste-me na cova mais profunda, nas trevas e nas profundezas."

Neste ponto do salmo, Hemã não apenas descreve seu sofrimento, mas atribui a Deus a causa de sua condição: “Puseste-me...”. Isso revela o quanto ele está confuso, tentando entender por que Deus, a quem ele clama dia e noite, parece tê-lo colocado em um lugar tão sombrio. A "cova mais profunda" é uma metáfora forte: representa o fundo do poço, onde não há luz, não há saída visível e tudo parece distante — até mesmo Deus. As "trevas" e "profundezas" indicam que ele se sente mergulhado em uma realidade sufocante e isolada.

Essa oração é carregada de sinceridade. Ela mostra que Deus não rejeita a dor expressa com franqueza. Hemã não está blasfemando — ele está sendo honesto com Deus sobre o que sente. Isso nos ensina que podemos levar até mesmo nossas acusações mais difíceis ao Senhor, com reverência, mas com verdade. Às vezes, a fé é permanecer em diálogo com Deus mesmo quando tudo em nós grita por desistência. E é nesse espaço de trevas que, embora não se veja, a graça de Deus pode estar operando de forma silenciosa e profunda.

✝ Salmos 88:7

"O teu furor pesa sobre mim, e me oprimiste com todas as tuas ondas. (Selá)"

Aqui, Hemã expressa o sentimento de estar debaixo da ira de Deus. Ele diz que o furor divino “pesa” sobre ele — como um fardo insuportável. O uso da palavra "ondas" cria a imagem de um mar revolto, em que as águas vêm uma após a outra, sem dar tempo de respirar. É como se cada sofrimento, cada dor, cada perda fosse uma nova onda que o arrasta mais para o fundo. A menção do “Selá”, que costuma indicar uma pausa para reflexão, sugere que essa dor precisa ser sentida e ponderada. Não é algo para ignorar ou espiritualizar rapidamente — é sofrimento real, vivido em carne e alma.

Este versículo também nos mostra um traço da espiritualidade madura: Hemã não se esconde atrás de palavras bonitas. Ele confessa que sente o peso da mão de Deus sobre si, mesmo que não entenda o porquê. Isso nos ensina que Deus não rejeita a dor honesta de um coração quebrado. Ele não está pedindo respostas — ele está pedindo alívio. E mesmo achando que Deus está irado, ele continua orando. Isso é fé: continuar buscando a Deus mesmo quando se tem a impressão de estar sendo esmagado por Ele. Às vezes, o silêncio do céu é o espaço onde a fé mais cresce.

✝ Salmos 88:8

"Afastaste de mim os meus conhecidos, fizeste-me abominável para com eles; estou preso, e não posso sair."

Neste versículo, Hemã lamenta a perda de vínculos humanos. Ele sente que Deus afastou até mesmo seus amigos e conhecidos, deixando-o completamente sozinho. Pior ainda, ele se tornou “abominável” para eles — alguém de quem se foge, talvez por medo, vergonha ou incompreensão. Isso revela o isolamento social de quem sofre profundamente. Não é raro que, em tempos de dor extrema, amigos desapareçam, e a solidão se torne ainda mais cruel. A dor não compartilhada pesa o dobro.

A frase “estou preso, e não posso sair” pode ter um sentido literal (prisão física, doença incapacitante), mas também pode ser vista como uma metáfora da mente e do coração. Ele se sente encarcerado dentro da própria dor, sem encontrar porta de saída. Essa sensação de aprisionamento emocional é comum a quem enfrenta depressão, angústias profundas ou perdas irreparáveis. E mesmo neste estado, Hemã continua orando — e isso é admirável. Ele nos ensina que, ainda que não vejamos saída, Deus continua sendo o único a quem podemos clamar. O simples fato de orar é um ato de fé, mesmo quando tudo parece ruína.

✝ Salmos 88:9

"Meus olhos estão fracos por causa da opressão; clamo a ti, SENHOR, o dia todo; a ti estendo minhas mãos."

Hemã nos mostra que seu sofrimento já afetou até sua visão — “meus olhos estão fracos” — uma imagem que pode ser física, por tanto chorar, ou simbólica, mostrando que ele já não enxerga mais saída, esperança ou direção. A opressão aqui é como um peso constante, que vai minando a força pouco a pouco. A dor é tanta que atinge os sentidos, a alma e a visão de futuro. Mas mesmo assim, ele não desiste: “Clamo a ti, Senhor, o dia todo.” Essa perseverança é um testemunho poderoso. Ele não ora apenas uma vez e desiste. Ele ora de manhã, de tarde, à noite. Dia após dia.

✝ Salmos 88:10

"Farás tu milagres aos mortos? Ou mortos se levantarão, e louvarão a ti? (Selá)"

Aqui, Hemã expressa o sentimento de urgência diante de Deus. Ele está dizendo: “Senhor, se eu morrer, ainda poderei te adorar? O Senhor faz milagres aos que já partiram?” É uma pergunta que carrega dor, mas também fé. O salmista acredita que Deus pode fazer milagres — mas quer vê-los enquanto ainda está vivo. O clamor é por intervenção agora, antes que a escuridão o consuma completamente. Essa pergunta não é teológica, mas existencial: ele está dizendo que a vida só faz sentido se Deus agir, se Deus responder.

A segunda parte — "Ou mortos se levantarão, e louvarão a ti?" — é seguida do Selá, que nos convida a parar e pensar. É um convite à meditação: o louvor verdadeiro é fruto da vida, da gratidão, da restauração. Hemã quer viver para louvar, quer ser liberto não apenas para si mesmo, mas para glorificar a Deus com sua vida. Isso nos ensina algo valioso: o verdadeiro coração de fé clama por socorro, não apenas para escapar da dor, mas para continuar glorificando o Senhor com tudo o que é.

✝ Salmos 88:11

"Tua bondade será contada na sepultura? Tua fidelidade na perdição?"

Aqui, Hemã continua sua reflexão difícil, questionando se o amor e a fidelidade de Deus têm alcance além da vida. Ele se pergunta: “Será que a bondade de Deus pode ser lembrada no túmulo? Será que Sua fidelidade alcança aqueles que estão no esquecimento da morte?” A sepultura e a perdição simbolizam o fim, o lugar onde tudo parece acabar — não só a vida, mas também a esperança.

Essa dúvida mostra um lado muito humano do salmista, que não esconde sua angústia. Ele não está negando a bondade de Deus, mas sente o silêncio diante do seu sofrimento. É um desabafo, uma pergunta que muitos de nós já fizemos: “Será que Deus se importa comigo quando estou no fundo do poço?” É um convite para refletirmos sobre como, mesmo na dor, a fé permanece buscando respostas.

Este versículo nos lembra que a fé não é ausência de dúvida, mas uma busca constante por sentido e conforto mesmo em momentos sombrios.

✝ Salmos 88:12

"Serão conhecidas tuas maravilhas nas trevas? E tua justiça na terra do esquecimento?"

Neste versículo, Hemã pergunta se os atos poderosos de Deus — suas maravilhas e sua justiça — podem ser manifestados e reconhecidos mesmo nas situações mais sombrias, nas trevas da aflição e na terra do esquecimento (uma imagem da morte e do isolamento). Ele está buscando entender se a presença e a intervenção de Deus alcançam além das dificuldades visíveis, alcançando também os momentos de completa escuridão e solidão.

Essa dúvida reflete o conflito interno do salmista, que quer acreditar na justiça e no poder de Deus, mas sente a distância e o silêncio divino em meio à sua angústia. É uma expressão da fé que persiste, mesmo quando tudo parece perdido.

Esse versículo nos lembra que a fé verdadeira é um diálogo sincero e contínuo com Deus, onde dúvidas e esperanças convivem lado a lado.

✝ Salmos 88:13

"Porém eu, SENHOR, clamo a ti; e minha oração vem ao teu encontro de madrugada."

Apesar de todas as dúvidas, angústias e sensações de abandono expressas nos versículos anteriores, aqui Hemã reafirma sua fidelidade e perseverança. Ele não desiste de clamar a Deus, mesmo quando tudo parece perdido e o silêncio prevalece. A expressão “minha oração vem ao teu encontro de madrugada” revela uma entrega profunda e constante, orando até nos momentos mais solitários e silenciosos da noite.

Essa madrugada simboliza o tempo de dificuldade, de escuridão, mas também o tempo em que a fé se fortalece na persistência. Hemã está dizendo que mesmo em seu sofrimento extremo, ele mantém a esperança, a conexão com Deus, e não deixa que a dor o silencie.

Esse versículo é um convite para que, em nossas próprias dores e dúvidas, não desistamos da oração e da busca por Deus, porque é nesse clamor fiel que a esperança encontra espaço para renascer.

✝ Salmos 88:14

"Por que tu, SENHOR, rejeitas minha alma, e escondes tua face de mim?"

Neste último versículo, Hemã expressa sua dor mais profunda — o sentimento de rejeição e abandono por parte de Deus. Ele pergunta diretamente: “Por que, Senhor, tu rejeitas minha alma? Por que escondes teu rosto de mim?” É um grito de quem se sente invisível aos olhos de Deus, como se a luz da Sua presença tivesse desaparecido completamente.

Esse clamor é honesto e cru. Hemã não tenta maquiar sua dor nem busca palavras suaves para sua angústia. Ele mostra que a fé não é ausência de sofrimento, mas a coragem de trazer até Deus nossas dúvidas, medos e sentimentos mais difíceis. Ele não perde a fé, pois continua falando com Deus, ainda que sentindo-se rejeitado.

Esse versículo nos ensina que, mesmo nos momentos mais escuros da alma, onde sentimos Deus distante, podemos nos permitir ser vulneráveis diante d’Ele. É nesse espaço de honestidade que a graça de Deus pode se manifestar e trazer cura.

✝ Salmos 88:15

"Tenho sido afligido e estou perto da morte desde a minha juventude; tenho sofrido teus temores, e estou desesperado."

Neste trecho, Hemã revela que sua dor não é recente, mas algo que o acompanha desde a juventude. Ele fala como alguém que carrega um fardo pesado por muito tempo, e que agora sente-se à beira da morte, sem forças, esgotado física e espiritualmente. O uso da palavra “temores” mostra que ele vive sob um sentimento constante de temor diante da severidade e silêncio de Deus. Ele não entende os propósitos, e isso o mergulha no desespero.

É uma dor que não passa, uma crise que se prolonga, um sofrimento antigo que parece não ter fim. Ainda assim, o salmista não se calou, continua orando. E isso é profundamente poderoso. Mesmo desesperado, ele dirige seu lamento a Deus. Isso nos ensina que, mesmo quando as palavras são duras e a alma está cansada, Deus é digno de ser buscado — porque Ele é o único capaz de ouvir e socorrer.

O salmo 88 é um lembrete de que a Bíblia não ignora o sofrimento humano. Pelo contrário: nos ensina que a fé verdadeira inclui perseverança na oração mesmo no vale mais escuro da existência.

✝ Salmos 88:16

"Os ardores de tua ira têm passado por mim; teus terrores me destroem."

Neste verso, Hemã descreve sua aflição como se estivesse sendo queimado pela ira de Deus — os “ardores” são como chamas que passam por ele, consumindo-o por dentro. E mais: ele sente que os terrores do Senhor o destroem, ou seja, a angústia é tão intensa que parece que está sendo despedaçado emocional e espiritualmente.

Essa é uma linguagem muito forte, que mostra como o salmista se vê diante de Deus não como um inimigo, mas como alguém confuso, ferido, tentando entender por que sofre tanto. Ele não está blasfemando, mas sendo sincero: expressando a sensação de que Deus permitiu que dores avassaladoras o atingissem sem explicação aparente.

Esse versículo nos lembra que Deus não rejeita o clamor do coração honesto. Ele conhece nossa estrutura, sabe até onde podemos ir, e permite que até nossas palavras mais duras façam parte da oração — porque orar com sinceridade é mais importante do que fingir fé que não temos no momento.

✝ Salmos 88:17

"Rodeiam-me como águas o dia todo; cercam-me juntos."

Hemã compara sua angústia a águas que o rodeiam constantemente, como uma enchente ou um afogamento emocional. Essa imagem é muito poderosa — ele se sente submerso na dor, sem espaço para respirar ou descansar. E não é algo momentâneo: “o dia todo” ele está cercado, sem trégua, sem alívio. As águas, na Bíblia, muitas vezes representam o caos, a aflição e a ameaça à vida. Aqui, elas simbolizam o peso contínuo da tristeza.

Além disso, ele diz que “cercam-me juntos” — ou seja, não há escapatória, não há espaço de fuga. Todos os sentimentos de dor, medo, solidão e desespero se juntam como um exército contra ele. Essa sensação de ser encurralado emocionalmente é algo que muitos já viveram — e o salmista tem coragem de declarar isso em oração.

Mesmo em meio a tudo isso, Hemã continua orando. Isso é fé em sua forma mais crua: ainda que Deus pareça distante, ele é o único a quem vale a pena clamar.

✝ Salmos 88:18

"Afastaste de mim meu amigo e meu companheiro; meus conhecidos estão em trevas."

O salmista encerra com um grito de solidão total. Ele declara que até as pessoas mais próximas — amigos e companheiros — foram afastadas. Ele não apenas sofre em sua alma, mas também sente-se abandonado por todos ao seu redor. A solidão aqui é profunda, como uma escuridão que engole tudo. Ele conclui dizendo que “meus conhecidos estão em trevas”, como se não houvesse mais ninguém ao seu lado, ninguém que compreendesse ou enxergasse sua dor.

Essa última linha revela uma verdade difícil da vida: há momentos em que até as pessoas mais próximas não conseguem alcançar a profundidade da nossa dor. Mas mesmo nesse abismo emocional, o salmista escolheu direcionar seu sofrimento a Deus. Ele não parou de orar, mesmo quando se sentia ignorado. Isso nos mostra uma fé que, embora ferida, permanece viva.

O Salmo 88 é um dos textos mais escuros da Bíblia — e justamente por isso, é um dos mais humanos. Ele nos ensina que Deus pode lidar com nossas emoções mais difíceis. Que até os clamores sem resposta têm valor diante do Senhor. E que a oração sincera, mesmo sem alívio imediato, é um ato de profunda confiança.


Resumo do Salmos 88


O Salmo 88 é um dos textos mais intensos e sombrios das Escrituras. Escrito por Hemã, o ezraíta, esse salmo é um clamor profundo de dor, abandono e desespero. Ao contrário de muitos outros salmos de lamento, ele não termina com palavras de esperança ou louvor, mas encerra com a imagem da escuridão total — refletindo a dor real que, às vezes, se estende por longos períodos da vida.

O salmista começa declarando que Deus é sua salvação, mas logo em seguida descreve sua alma como cheia de aflição. Ele se sente como alguém à beira da morte, esquecido, isolado e sem forças. A linguagem é forte, cheia de imagens de sepultura, trevas, águas que afogam, e terror que consome. Hemã sente que até seus amigos o abandonaram e que a presença de Deus parece ausente.

No entanto, mesmo mergulhado nesse sofrimento, ele continua a clamar dia e noite. Ele ora com persistência, mesmo sem respostas. Isso nos ensina algo poderoso: a fé verdadeira não depende de sentir conforto, mas de continuar buscando a Deus mesmo quando tudo parece perdido.

O Salmo 88 nos lembra que a Bíblia é honesta sobre a dor humana. Nem sempre há respostas imediatas ou finais felizes. Mas mesmo na escuridão, Deus ouve. E o simples fato de continuar orando já é, por si só, um ato de esperança.



📚Referências


BÍBLIA. Bíblia Sagrada: Almeida Revista e Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

👉 Referência básica da versão usada para a citação do texto bíblico.

KIDNER, Derek. Salmos 73–150: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2012. (Série Cultura Bíblica).

👉 Excelente comentário bíblico evangélico, com reflexões pastorais e exegéticas sobre o Salmo 88.

SPURGEON, Charles Haddon. O Tesouro de Davi: exposições devocionais dos Salmos. Vol. 3. São José dos Campos: Publicações Pão Diário, 2016.

👉 Comentário clássico do “Príncipe dos Pregadores”, com aplicação espiritual e devocional sobre cada versículo.

GOLDINGAY, John. Salmos: Volume 3 – Salmos 90–150. São Paulo: Vida Nova, 2020.

👉 Comentário moderno e acadêmico, com leitura profunda e atual do texto hebraico e seus contextos.

Bíblia de estudos

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

JÓ 24

Fonte: Imagesearchman

JÓ 24 - O Mistério da Justiça de Deus e o Sofrimento dos Justos

Introdução:

No capítulo 24 de Jó, vemos uma das perguntas mais profundas e desafiadoras da humanidade: por que os perversos prosperam enquanto os justos sofrem? Jó observa as injustiças do mundo e questiona por que Deus parece permitir que os maus continuem suas maldades sem punição imediata. Ele descreve cenas de opressão, miséria e desigualdade, ressaltando como os necessitados são explorados enquanto os ímpios vivem sem aparente consequência.

Essa reflexão não apenas expõe a angústia de Jó, mas também nos leva a um ponto crucial da fé: a compreensão de que os caminhos de Deus nem sempre são claros aos olhos humanos. No entanto, apesar do aparente silêncio divino, Jó mantém sua busca por respostas, demonstrando que a fé verdadeira não se trata apenas de receber bênçãos, mas também de confiar em Deus mesmo quando tudo parece injusto.

✝ Jó 24:1

"Por que os tempos não são marcados pelo Todo-Poderoso? Por que os que o conhecem não veem seus dias?"

Jó inicia este capítulo com uma inquietação profunda: se Deus é soberano, por que Ele não estabelece um tempo claro para julgar os ímpios? Por que aqueles que O conhecem e O servem não veem a manifestação de Sua justiça? Essa pergunta reflete a angústia do ser humano diante das injustiças do mundo, onde os perversos parecem prosperar sem consequências visíveis.

Essa questão de Jó nos convida a refletir sobre a forma como Deus governa o mundo. Muitas vezes, esperamos um julgamento imediato, mas Deus opera segundo Sua própria sabedoria e tempo. Ele não age conforme nossa expectativa, mas conforme Seu plano perfeito. A fé verdadeira exige confiar que, mesmo quando não vemos, Deus está no controle e Sua justiça se manifestará no momento certo.

✝ Jó 24:2

"Há os que mudam os limites de lugar, roubam rebanhos, e os apascentam."

Jó continua sua reflexão apontando para a maldade daqueles que agem com desonestidade e opressão. Ele menciona aqueles que mudam os marcos das terras, uma prática desonesta usada para roubar propriedades, e os que se apropriam dos rebanhos alheios como se fossem seus. Esses atos representam a corrupção e a ganância de pessoas que não têm temor de Deus, explorando os outros para benefício próprio.

Essa passagem nos lembra que a injustiça sempre esteve presente na humanidade, mas Deus não é indiferente a ela. Embora pareça que os ímpios prosperam sem punição, a justiça divina não falha. O desafio para os justos é permanecer íntegros, confiando que Deus, no tempo certo, trará juízo sobre toda maldade.

✝ Jó 24:3

"Levam o asno do órfão; penhoram o boi da viúva."

Jó denuncia a crueldade daqueles que exploram os mais vulneráveis, mencionando especificamente os órfãos e as viúvas. Os ímpios tomam o asno do órfão, privando-o de seu meio de sustento, e exigem como penhor o boi da viúva, tirando dela sua única fonte de trabalho e sobrevivência. Esses atos mostram a falta de compaixão e o abuso de poder dos perversos contra os indefesos.

Esse versículo nos lembra da importância da justiça e da misericórdia. Deus sempre teve um olhar especial para os órfãos e viúvas, e espera que Seu povo aja com bondade e retidão. Embora os maus pareçam triunfar por um tempo, a justiça divina não falha. O chamado para os justos é ser um instrumento de proteção e auxílio aos que mais precisam.

✝ Jó 24:4

"Desviam do caminho aos necessitados; os pobres da terra juntos se escondem."

Jó continua descrevendo a injustiça dos perversos, mostrando como eles afastam os necessitados do caminho, impedindo-os de viver com dignidade. Os pobres, sem recursos e sem defesa, são forçados a se esconder, buscando refúgio da opressão. Essa cena retrata um mundo onde a ganância e a crueldade dominam, deixando os mais fracos sem amparo.

Esse versículo nos lembra do compromisso que Deus espera de nós em relação aos necessitados. Em vez de desviar os pobres ou ignorar seu sofrimento, somos chamados a agir com justiça e compaixão. Mesmo que os ímpios pareçam dominar, Deus vê tudo e, no tempo certo, reverterá essa situação, trazendo justiça aos oprimidos.

✝ Jó 24:5

"Eis que como asnos selvagens no deserto eles saem a seu trabalho buscando insistentemente por comida; o deserto dá alimento a ele e a seus filhos."

Jó compara os pobres e necessitados a asnos selvagens no deserto, forçados a vagar incansavelmente em busca de sustento. Eles não têm segurança nem estabilidade, vivendo uma luta diária para encontrar alimento para si e para seus filhos. O deserto, um lugar árido e inóspito, acaba sendo seu único recurso, pois a sociedade os rejeita e os oprime.

Essa imagem ressalta a dureza da vida dos menos favorecidos e a indiferença dos poderosos. No entanto, Deus vê o sofrimento dos necessitados e se importa com eles. Esse versículo nos desafia a refletir sobre nosso papel na luta contra a injustiça, lembrando que somos chamados a ser instrumentos de amparo e provisão na vida dos que enfrentam dificuldades.

✝ Jó 24:6

"No campo colhem sua forragem, e vindimam a vinha do perverso."

Jó descreve como os pobres, apesar de sua miséria, precisam trabalhar arduamente para sobreviver. Eles colhem forragem nos campos para se alimentar e até mesmo colhem uvas nas vinhas dos perversos, provavelmente como trabalhadores explorados ou mendigando restos. Isso mostra a dura realidade dos necessitados, que lutam para conseguir o mínimo enquanto os ímpios prosperam sem escrúpulos.

Esse versículo nos faz refletir sobre a desigualdade e a exploração dos mais fracos pelos poderosos. Embora o mundo pareça injusto, Deus não ignora o sofrimento dos oprimidos. Ele vê todas as coisas e, no tempo certo, julgará os perversos e trará justiça aos que clamam por socorro.

✝ Jó 24:7

"Passam a noite nus, por falta de roupa; sem terem coberta contra o frio."

Jó continua a descrever o sofrimento dos necessitados, mostrando que, além da fome e do trabalho exaustivo, eles também enfrentam o frio sem roupas adequadas. Sem abrigo e sem recursos, passam as noites expostos, vulneráveis às dificuldades do clima, sem sequer um cobertor para protegê-los. Essa imagem retrata a extrema miséria e a negligência dos poderosos em relação aos pobres.

Esse versículo nos lembra da responsabilidade que temos para com os menos favorecidos. Deus nos chama a ser generosos e compassivos, estendendo a mão àqueles que sofrem. Ainda que os ímpios pareçam ignorar essa realidade, Deus vê cada injustiça e, no tempo certo, trará justiça e consolo aos aflitos.

✝ Jó 24:8

"Pelas correntes das montanhas são molhados e, não tendo abrigo, abraçam-se às rochas."

Jó descreve ainda mais o sofrimento dos necessitados, que enfrentam não apenas a fome e o frio, mas também as condições adversas da natureza. Eles são molhados pelas correntes das montanhas, provavelmente devido a tempestades ou chuvas, e, sem abrigo, recorrem às rochas para se protegerem do clima severo. Essa imagem transmite a total falta de segurança e dignidade com que essas pessoas são tratadas, forçadas a buscar refúgio nas condições mais primitivas e precárias.

Esse versículo reforça a vulnerabilidade dos pobres e a indiferença da sociedade em relação ao seu sofrimento. Para nós, é um chamado à ação: a necessidade de agir com compaixão, garantindo que aqueles que estão em situação de risco tenham cuidado e proteção. Embora o mundo esteja repleto de injustiça, a promessa de Deus é que Ele não desamparará os que estão em aflição.

✝ Jó 24:9

"Há os que arrancam ao órfão do peito, e do pobre tomam penhor."

Jó revela a crueldade extrema dos opressores, que chegam a arrancar o órfão do seio materno, tirando-lhe a segurança e o carinho, e tomam como penhor o que é do pobre, exigindo como garantia algo que ele não pode dar. Esses atos são uma clara violação da dignidade humana, onde os mais vulneráveis são despojados até do pouco que têm, sem qualquer misericórdia.

Essa passagem destaca a maldade dos ímpios e a brutalidade contra os desprotegidos. A Bíblia nos ensina que os órfãos e os pobres são especialmente caros ao coração de Deus, e Ele sempre se posiciona contra a exploração e opressão deles. Para os justos, há um chamado claro: defender a causa dos vulneráveis, agir com justiça e compaixão, e nunca tolerar a exploração dos fracos.

✝ Jó 24:10

"Ao nus fazem andar sem vestes, e fazem os famintos carregarem feixes."

Jó continua a descrever as crueldades cometidas pelos opressores, que não apenas despojam os necessitados de suas vestes, forçando-os a andar nus, mas também os obrigam a carregar feixes pesados, mesmo estando famintos. Essa imagem revela o quanto os pobres e desamparados são sobrecarregados, privados de suas necessidades mais básicas e tratados com extrema dureza.

Essa passagem ilustra a exploração implacável dos mais fracos, uma prática que desconsidera a dignidade humana. Ao mesmo tempo, nos lembra da responsabilidade dos justos em agir com misericórdia, buscando aliviar o sofrimento dos necessitados. Embora os ímpios possam parecer escapar de suas ações, a justiça de Deus é certa, e Ele traz à luz as injustiças cometidas contra os vulneráveis.

✝ Jó 24:11

"Entre suas paredes espremem o azeite; pisam os lagares, e ainda têm sede."

Jó descreve uma situação em que os opressores, embora se beneficiem do trabalho árduo dos outros, não compartilham os frutos desse trabalho. Eles espremem o azeite entre as paredes e pisam nos lagares para extrair o vinho, processos que exigem esforço físico, mas, ainda assim, ficam com sede, como se nem mesmo o que obtêm lhes fosse suficiente. Isso mostra a exploração contínua e a ganância insaciável daqueles que abusam dos outros.

Essa imagem transmite a ideia de que, por mais que acumulem riquezas através da exploração, os ímpios nunca estão satisfeitos e continuam a viver em uma busca incessante por mais. Ao mesmo tempo, este versículo nos lembra das consequências da avareza e do egoísmo: mesmo tendo mais do que precisam, a insaciabilidade continua, enquanto os pobres ficam sem o básico. A lição aqui é sobre a importância de cultivar generosidade e contentamento, buscando a justiça e o bem-estar de todos, especialmente dos vulneráveis.

✝ Jó 24:12

"Desde a cidade as pessoas gemem, e as almas dos feridos clamam; Mas Deus não dá atenção ao erro."

Jó descreve a angustiante realidade de uma sociedade marcada pela injustiça, onde as pessoas na cidade estão em sofrimento, gemendo devido às opressões que enfrentam. As almas feridas clamam por ajuda, mas, ao olhar humano, parece que Deus não dá atenção ao erro e ao sofrimento dos justos. Essa percepção de abandono é uma das maiores dificuldades enfrentadas por aqueles que sofrem, especialmente quando a dor parece sem fim e a justiça parece tardar.

Este versículo expressa a sensação de que, muitas vezes, o sofrimento dos justos passa despercebido, enquanto os ímpios continuam a prosperar. Contudo, essa passagem nos desafia a confiar na soberania de Deus, mesmo quando parece que Ele está distante. Embora pareça que Ele não esteja respondendo às súplicas, Deus está atento a tudo e, em Seu tempo perfeito, trará justiça. A lição para nós é perseverar em fé, mesmo nas dificuldades, sabendo que Deus não ignora o sofrimento, mas age de acordo com Sua vontade soberana.

✝ Jó 24:13

"Há os que se opõem à luz; não conhecem seus caminhos, nem permanecem em suas veredas."

Jó descreve aqueles que, deliberadamente, se opõem à luz, simbolizando a verdade, a justiça e o caminho de Deus. Esses indivíduos rejeitam o que é certo, não conhecem os caminhos da retidão e se afastam das veredas que conduzem à verdadeira vida. A escuridão que escolhem é uma representação de sua rebelião contra os princípios divinos, preferindo a escuridão ao invés da luz que traz clareza e direção.

Este versículo nos ensina sobre a escolha consciente de alguns em viver no erro, afastando-se dos caminhos de Deus e da verdade. O contraste entre a luz e a escuridão é um tema central nas Escrituras, mostrando que, ao rejeitar a luz, as pessoas se perdem, vagando por caminhos tortuosos. Para nós, é um chamado a permanecer firmes na verdade e nos caminhos de Deus, mesmo quando o mundo ao redor escolhe a escuridão.

✝ Jó 24:14

"De manhã o homicida se levanta, mata ao pobre e ao necessitado, e de noite ele age como ladrão."

Jó retrata a maldade daqueles que praticam crimes com total desprezo pela vida e pelos direitos dos outros. O homicida se levanta pela manhã e, sem remorso, mata o pobre e o necessitado, pessoas sem proteção. E, à noite, ele age como um ladrão, cometendo outros crimes. A figura do criminoso que age em plena luz do dia e à noite sem se importar com as consequências reflete a perversidade e a falta de consciência do mal que está fazendo.

Esse versículo nos alerta para a crueldade daqueles que, sem temor de Deus ou respeito ao próximo, destroem vidas em busca de seus próprios interesses. Também nos lembra da importância da justiça divina, pois, embora os ímpios possam agir impunemente por um tempo, Deus está atento a tudo e, no Seu tempo, fará justiça. Para nós, é um chamado a agir com integridade e proteger os indefesos, confiando que Deus, o Justo Juiz, tomará conta de todas as iniquidades.

✝ Jó 24:15

"O olho do adúltero aguarda o crepúsculo, dizendo: Olho nenhum me verá; E esconde seu rosto."

Jó descreve a atitude do adúltero, que age com a intenção de se esconder e praticar seu pecado nas sombras, esperando pelo crepúsculo, quando a escuridão lhe permite agir sem ser visto. O pensamento do adúltero é que, ao ocultar seu rosto e seu pecado, ele escapará das consequências de suas ações. Esse comportamento revela a hipocrisia e a falta de vergonha, já que, embora ele tente se esconder dos olhos humanos, Deus vê todas as coisas.

Este versículo nos ensina sobre a ilusão de que podemos esconder nossos pecados dos outros e de Deus. A escuridão do crepúsculo pode cobrir os olhos humanos, mas a luz de Deus revela até os pensamentos mais ocultos. Para os justos, isso é um lembrete de que devemos viver com integridade, sem esconder nossos atos ou intenções, sabendo que, diante de Deus, não há nada que se possa ocultar.

✝ Jó 24:16

"Nas trevas vasculham as casas, de dia eles se trancam; não conhecem a luz."

Jó descreve os ímpios como aqueles que operam nas sombras, vasculhando casas e realizando suas maldades nas trevas, longe dos olhos da sociedade. Durante o dia, eles se trancam, buscando se proteger de qualquer risco de exposição, e vivem distantes da luz, tanto física quanto espiritualmente. Esse comportamento de agir secretamente reflete a consciência do mal que fazem, preferindo esconder suas ações ao invés de viver na transparência e retidão.

Esse versículo destaca a natureza do pecado e da injustiça: aqueles que praticam o mal tentam evitar ser vistos, mas, ao contrário do que pensam, Deus vê tudo. A luz de Deus revela os segredos mais escuros. Para os justos, isso é um lembrete da importância de viver com integridade e de andar na luz, sem temer o julgamento humano, mas com o temor e respeito à verdade e à justiça divina.

✝ Jó 24:17

"Porque a manhã é para todos eles como sombra de morte; pois são conhecidos dos pavores de sombra de morte."

Jó descreve a vida dos ímpios como marcada por uma constante sensação de medo e insegurança. Para eles, a manhã, que normalmente traz a esperança de um novo dia, é como uma sombra de morte, refletindo o pavor e a angústia que carregam. Eles vivem em constante temor, como se cada novo dia os aproximasse da condenação, pois suas ações os mantém sob a sombra da morte, sem paz ou alívio.

Esse versículo mostra como o pecado e a injustiça levam à destruição interna, tirando a paz e o equilíbrio, substituídos pelo medo constante. Para os ímpios, a vida é uma constante ameaça, pois eles vivem longe de Deus, sem a segurança que Ele oferece. Para nós, é um lembrete de que viver fora dos caminhos de Deus é viver em constante medo, enquanto a verdadeira paz e segurança só vêm quando andamos na luz e na verdade de Deus.

✝ Jó 24:18

"Ele é ligeiro sobre a superfície das águas; maldita é sua porção sobre a terra; não se vira para o caminho das vinhas."

Jó descreve o ímpio como alguém que é "ligeiro sobre a superfície das águas", sugerindo que ele vive de forma superficial, sem profundidade ou raízes. Sua vida é passageira e frágil, como a água que não pode ser segurada. A "porção maldita" que ele recebe sobre a terra reflete a consequência de suas escolhas, uma vida sem estabilidade e sem o favor de Deus. Além disso, ele "não se vira para o caminho das vinhas", indicando que ele ignora as coisas que são verdadeiras e boas, como os princípios de justiça e retidão, que são comparados às vinhas, símbolo de prosperidade e bênçãos.

Esse versículo nos lembra que a vida do ímpio é vazia e sem base firme. Embora ele possa parecer rápido e ágil, sua trajetória é efêmera e sem valor eterno. A verdadeira prosperidade e segurança vêm ao seguirmos o caminho de Deus, enraizados em Sua justiça e em Seus caminhos, que nos conduzem a uma vida plena e abençoada.

✝ Jó 24:19

"A seca e o calor desfazem as águas da neve; assim também o mundo dos mortos faz aos que pecaram."

Jó usa a imagem da seca e do calor que derretem as águas da neve para ilustrar como o destino dos ímpios se desenrola. Assim como a água da neve desaparece rapidamente sob o calor intenso, a vida daqueles que pecam é consumida e levada pela destruição. A comparação com o "mundo dos mortos" sugere que, para os ímpios, a morte e a perdição são inevitáveis, como um processo de consumação final que remove tudo que restava de vida e esperança.

Esse versículo nos ensina que os pecados não ficam impunes, e que, sem arrependimento, o destino final do ímpio é a destruição. A morte, em sentido espiritual e eterno, é a consequência para aqueles que escolhem viver longe dos caminhos de Deus. Para os justos, isso serve como um aviso de que devemos viver com temor e reverência a Deus, pois nossas escolhas têm consequências eternas.

✝ Jó 24:20

"A mãe se esquecerá dele; doce será para os vermes; nunca mais haverá memória dele ,e a perversidade será quebrada como um árvore."

Jó descreve a terrível consequência do pecado, onde o ímpio é consumido de tal forma que até mesmo a mãe, que deveria ser a mais dedicada e amorosa, se esquecerá dele. Sua vida, em vez de ser lembrada com afeto, se torna algo doce para os vermes, uma referência à morte e à decomposição. A perversidade do ímpio será quebrada como uma árvore, indicando que a injustiça e o mal não durarão para sempre, mas serão destruídos de forma irreversível.

Esse versículo enfatiza a destruição final do mal e a efemeridade da vida dos ímpios que vivem longe de Deus. A referência à mãe que se esquece e à memória que desaparece sugere que, apesar de todos os esforços de um indivíduo para alcançar algo duradouro, a perversidade e o pecado os levarão à ruína, sem deixar um legado de honra. Para nós, é um forte lembrete da importância de viver de maneira justa e íntegra diante de Deus, buscando um legado que reflita Sua verdade e justiça.

✝ Jó 24:21

"Aflige à mulher estéril, que não dá à luz; e nenhum bem faz à viúva."

Jó continua a retratar a maldade dos ímpios, mostrando como eles afligem ainda mais os já vulneráveis, como a mulher estéril, que não pode gerar filhos, e a viúva, que já perdeu seu esposo e, muitas vezes, sua fonte de sustento. Os opressores não fazem bem a essas mulheres, que são símbolos da fragilidade e da solidão na sociedade, agravando ainda mais sua dor e sofrimento.

Esse versículo revela a crueldade de um coração insensível, que não reconhece ou valoriza as necessidades dos mais fracos e desamparados. Deus, no entanto, é descrito nas Escrituras como defensor dos órfãos e viúvas, sempre ao lado dos que estão em dificuldades. Para nós, é um lembrete claro de que devemos ser pessoas de compaixão, agindo com justiça e cuidado para com os mais vulneráveis, e buscando trazer alívio e auxílio àqueles que sofrem.

✝ Jó 24:22

"Mas Deus arranca aos poderosos com seu poder; quando Deus se levanta, não há vida segura."

Jó declara que, embora os ímpios possam parecer ter poder e controle sobre os outros, Deus tem o poder de arrancá-los de sua posição, mesmo dos mais poderosos. Quando Deus se levanta para agir, nenhum ser humano, por mais que seja forte ou influente, está seguro. Sua autoridade é soberana e imbatível, e Ele pode derrubar os que abusam de seu poder, trazendo justiça de maneira inquestionável.

Este versículo nos lembra da grandeza de Deus e de Sua autoridade absoluta sobre todas as coisas. A soberania divina é algo que devemos sempre ter em mente, especialmente quando vemos a injustiça prosperando no mundo. Nenhum poder humano é permanente diante de Deus, e Ele é o verdadeiro juiz de todas as ações. Para nós, isso serve como um lembrete de que devemos viver com humildade, sabendo que Deus é o único justo juiz e que, no tempo certo, Ele trará justiça.

✝ Jó 24:23

"Se ele lhes dá descanso, nisso confiam; mas os olhos de Deus estão postos nos caminhos deles."

Jó destaca que, embora os ímpios possam confiar em seu descanso e prosperidade temporária, essa confiança é ilusória. Eles acreditam que, ao receberem algum alívio ou conforto, estão seguros. No entanto, os olhos de Deus estão constantemente sobre eles, observando seus caminhos e ações. Mesmo que pareça que os ímpios estão em paz, Deus está ciente de tudo e, em Sua justiça, trará as consequências adequadas.

Este versículo nos lembra da vigilância constante de Deus sobre todas as pessoas. Nada escapa aos Seus olhos e, embora os ímpios possam experimentar momentos de tranquilidade, isso não significa que estejam fora do alcance de Sua justiça. Para os justos, isso é um conforto, pois sabemos que Deus está atento e que, mesmo nas situações mais difíceis, Ele está no controle e cuida de cada detalhe.

✝ Jó 24:24

"São exaltados por um pouco de tempo ,mas logo desaparecem; são abatidos, encerrados como todos, e cortados como cabeças das espigas."

Jó descreve a breve natureza da prosperidade dos ímpios. Eles podem ser exaltados, ou seja, desfrutar de poder e riqueza por um curto período, mas logo desaparecem, como as espigas que são cortadas ao fim da colheita. Assim como as espigas secas são removidas e descartadas, os ímpios são abatidos e desaparecem, sem deixar legado duradouro.

Este versículo nos ensina sobre a transitoriedade da riqueza e do poder terrenais. Aqueles que confiam apenas nas coisas temporais podem ser elevados por um momento, mas sua posição é instável e, no final, tudo será consumido pela morte e pelo juízo de Deus. Para nós, é um lembrete de que nossa verdadeira segurança e propósito não devem estar nas riquezas ou no status, mas em viver conforme os princípios de Deus, que são eternos.

✝ Jó 24:25

"Se não é assim, quem me desmentirá, ou anulará minhas palavras?"

Jó encerra este discurso com uma afirmação de sua sinceridade e convicção. Ele desafia seus ouvintes, perguntando quem seria capaz de desmentir ou refutar suas palavras, caso elas não fossem verdadeiras. Ele está, de fato, afirmando que as observações que fez sobre a injustiça e o destino dos ímpios são baseadas em sua experiência e percepção da realidade. Para Jó, as realidades da vida, como o sofrimento dos justos e a impunidade dos ímpios, são inegáveis, e ele acredita que suas palavras refletem uma verdade profunda sobre o mundo.

Esse versículo nos lembra da coragem de falar a verdade, mesmo quando ela é difícil de aceitar. Jó, em sua dor e frustração, permanece firme nas suas convicções, mesmo quando outros possam questionar sua perspectiva. Para nós, é um incentivo a manter nossa fé e nossa integridade, confiantes de que, mesmo quando não entendemos todas as respostas, a verdade de Deus prevalecerá.

Resumo Jó 24

No capítulo 24 de Jó, ele descreve as injustiças e sofrimentos que acontecem no mundo, particularmente em relação aos ímpios que vivem sem temor a Deus e prejudicam os mais vulneráveis. Jó observa como os malfeitores abusam dos pobres, das viúvas e dos órfãos, roubando e explorando os necessitados sem nenhuma consideração pela justiça divina. Ele também destaca a brevidade e a futilidade da prosperidade dos ímpios, que, embora possam ser exaltados por um tempo, logo desaparecem e são consumidos pela morte, sem deixar legado duradouro.

Jó reflete sobre a aparente impunidade dos ímpios, questionando por que Deus permite que esses malfeitores prosperem por um período, enquanto os justos sofrem. Ele reconhece que, apesar de parecer que os ímpios estão em paz, Deus vê todos os caminhos e os juízos de Deus são inevitáveis. No final, Jó desafia aqueles ao seu redor, reafirmando que suas observações são verdadeiras e que ninguém pode refutá-las.

O capítulo 24 de Jó, portanto, destaca o sofrimento do justo diante das injustiças no mundo e a soberania de Deus sobre tudo. Jó exorta à reflexão sobre as consequências do pecado e da maldade, enquanto também reafirma sua crença de que, apesar de tudo, a justiça de Deus será finalmente estabelecida.

Referências

BÍBLIA SAGRADA. O Livro de Jó. In: BÍBLIA SAGRADA: Antigo e Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000. p. 625-626.

BÍBLIA SAGRADA. Jó 24. In: BÍBLIA SAGRADA: tradução de João Ferreira de Almeida. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Editora Batista, 1993. p. 845.

ARAÚJO, João de. O Livro de Jó: uma leitura crítica. São Paulo: Editora Vida, 2002. p. 122-125.

CARNEIRO, José Carlos. Reflexões sobre o sofrimento e a justiça: uma análise do Livro de Jó. 2. ed. Brasília: Editora Teológica, 2010. p. 150-152.

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